segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Uma Contribuição de Nilton Resende - Jorge de Lima

CANTO QUARTO

As Aparições
I
Um monstro flui nesse poema
feito de úmido sal-gema.
A abóbada estreita mana
a loucura cotidiana.
Pra me salvar da loucura
como sal-gema. Eis a cura.
O ar imenso amadurece,
a água nasce, a pedra cresce.
Mas desde quando esse rio
corre no leito vazio?
Vede que arrasta cabeças,
frontes sumidas, espessas.
E são minhas as medusas,
cabeças de estranhas musas.
Mas nem tristeza e alegria
cindem a noite, do dia.
Se vós não tendes sal-gema,
não entreis nesse poema.

(Jorge de Lima / a invenção de orfeu)